por
Eliana Gavioli |
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Vocês sabiam que o acervo musical produzido pela humanidade até o século XV foi
totalmente perdido? Sim, pois até esta época não haviam sido concebidos modelos
e notações que tornassem possível a reprodução das composições musicais. Tudo o
que era produzido, passava de um músico para outro, ou de uma geração para
outra, sem que houvesse nenhuma garantia de que os elementos da música, como
ritmo, melodia e harmonia fossem preservados conforme foram criados.
A reprodução musical dependia da habilidade do
músico em imitar o que estava sendo tocado e da cansativa repetição da
composição, o que tornava a música restrita a pequenos grupos seletos.
Apenas no século XV foram criadas as primeiras
notações que conseguiam um registro bastante satisfatório das notas, do ritmo e
da tonalidade em que a música seria tocada. Até o século XVII, aconteceram
pequenas evoluções, no sentido de permitir o desenvolvimento da polifonia,
quando várias melodias são reproduzidas ao mesmo tempo, em harmonia.
Uma curiosidade que chama bastante atenção, é
que neste período, Bach percebeu que era possível tocar o teclado de um piano,
por exemplo, usando todos os cinco dedos, e não apenas os três dedos utilizados
até então. Foi a partir desta descoberta que foram criadas as escalas musicais,
aplicadas ao estudo da música até os dias de hoje. Este momento, foi de grande
brilhantismo para a música e neste período foram compostas as grandes sinfonias,
que nos encantam até os dias de hoje.
Olhando para a história, somos tentados a
julgar nossos antepassados como pessoas primitivas e limitadas. Por que ninguém
pensou nisso antes? Por que tanta riqueza perdeu-se no tempo, sem que haja a
mínima possibilidade de que seja resgatada?
Nós, profissionais de TI, que nos julgamos tão
superiores, estamos tão ocupados e preocupados com os detalhes técnicos, que
deixamos de registrar em modelos amparados por notações já consagradas, os
requisitos que realmente agregam valor ao negócio. E não porque não dispomos de
meios para tal, mas por julgarmos que nunca temos tempo suficiente. E por isso,
chegamos ao cúmulo de sermos obrigados a recorrer ao código para buscarmos
regras de negócio, que muitas vezes só poderiam ser encontradas na cabeça do
funcionário da área de negócio que acabou de sair no Plano de Demissões
Voluntárias, com o recurso terceiro da área técnica que encontrou uma colocação
mais interessante ou naquele disquete empoeirado, que micro nenhum consegue ler.
Acontece que, buscar no código o conhecimento
que poderia estar registrado em outros meios mais adequados, leva no mínimo seis
vezes mais tempo, e ainda traz o risco de interpretação equivocada.
Este círculo vicioso precisa ser invertido.
Ora, só não temos tempo para um registro decente das informações básicas para o
desenvolvimento e manutenção de software, porque estamos ocupados demais,
buscando no código o que deveria estar registrado de uma forma mais inteligente.
Afinal, quem precisa de código para funcionar são as máquinas. Nós humanos
sempre nos demos melhor com documentação consistente e confiável, que se
inexistente, nos força a tocar de ouvido. Acontece que, tocar de ouvido, por
melhor que seja a música, nunca vai ter a qualidade dos grandes clássicos.
Pra tocar de ouvido, o músico ou é bom demais
ou precisa tocar muitas vezes a mesma música. Um repentista da melhor qualidade
é capaz de fazer muitos improvisos nos versos e nas melodias, mas quase sempre,
tudo é muito semelhante. E se convidado a tocar algo de qualidade superior, ele
não sabe nem como começar.
E assim é no mundo de TI. Quem faz sistemas de
ouvido é capaz de fazer muitos sistemas sempre meio parecidos, mas que não
necessariamente, satisfazem as expectativas de quem o assiste.
Agora, vamos imaginar Bach, Beethoven ou algum
outro gênio da música, ocupado demais para registrar suas magníficas criações.
Simplesmente, não poderíamos nos recostar em uma das confortáveis poltronas da
Sala São Paulo, para apreciar, embevecidos, um tão grande espetáculo.
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