MEXMA
Treinamento Executivo

Informática e Recursos Humanos


 

 

     

Um caso comum deste final de século

   
por Marcio Martini      

 

Até ontem, os Clientes Internos (Clientes) solicitavam ao Depto. de Sistemas de Informação (DSI) aplicativos para suprir suas necessidades de informatização. Aqui estabelecia-se a relação Cliente-Fornecedor (C-F) onde do lado "C" estavam os Clientes e do lado "F" estava o DSI. Numa estrutura tradicional (sem terceirização, outsourcing etc) o DSI desenvolvia o pedido de ponta-a-ponta e entregava-o ao Cliente final. Este avaliava o DSI através dos produtos e serviços por ele oferecidos.

Porém, o quadro atualmente é outro. A primeira relação C-F se estabelece quando o Cliente procura o DSI e solicita um serviço/produto. O DSI faz um levantamento preliminar, prepara um ante-projeto e submete-o a aprovação do Cliente. Uma vez aprovado entra em cena a segunda relação C-F: esta entre o DSI (Cliente) e um terceiro Fornecedor de Soluções Informatizadas (Fornecedor).

Neste quadro estão: Cliente vendo DSI como Fornecedor, DSI vendo Fornecedor terceiro como Fornecedor, Fornecedor terceiro vendo DSI como Cliente, DSI vendo Cliente como Cliente e ... Cliente vendo DSI como FIADOR. Sim, trata-se de uma relação de FIANÇA visto que é o DSI quem apresenta, homologa, qualifica, cataloga etc o Fornecedor terceiro como um fornecedor que pode oferecer QUALIDADE. Caminhando um pouco por esta análise, a visão de Qualidade deve ser aberta para dois planos bem distintos: o da Qualidade Explícita e o da Qualidade Implícita.

Como Implícita está aquela qualidade que é interna ao produto ou serviço, aquela que não esta exposta, aquela que compõe internamente a "caixa preta" etc. Enfim, aquela que, por não estar visível, não pode ser avaliada imediata e diretamente pelo Cliente.

Como explícita está a qualidade que é externa, aquela que é concreta, visível, mensurável, real, discreta etc. Enfim, aquela que "salta aos olhos". Cabe aqui, no mundo da Qualidade, lembrar John Guaspari no seu livro A Empresa que Parou no Tempo oferecendo-nos uma brilhante definição sobre o que vem a ser Qualidade: "eu sei quando eu vejo" (I know it when I see it).

Focando outro ponto importante, dessa relação C-F vem a Expectativa do Cliente. Diretamente ligada à Qualidade Explícita, a Expectativa é aquela porção do serviço / produto que está sendo ESPERADA, desejada, ansiada, sonhada pelo Cliente.

Assim, quando se pede um chopp ao garçom, ESPERA-SE que este esteja gelado, servido num copo limpo, com uma toalha branca, por um garçom bem barbeado etc. Além disso junta-se à Expectativa o fator DIREITO ADQUIRIDO, que nada mais é do que aquilo que "se oferece como de costume" – e que quando você não oferece o Cliente reclama.

Agora vamos olhar pelo lado do Fornecedor (seja DSI ou terceiro). Quando você vai até um alfaiate para fazer um terno e pede a ele um palpite, o mínimo que se espera é que ele lhe apresente SOLUÇÕES.

Bem, a definição de Solução é: Aquilo que, no momento e de acordo com a conjuntura, pode ser feito para atender aos Objetivos do Cliente. Releia comigo: aquilo que, ... no momento ... e de acordo com a conjuntura, ... pode ser feito para atender aos Objetivos do Cliente. Veja que isso implica negociar, ajustar, combinar, arranjar, adaptar etc, situações reais, concretas, factíveis, para que o Desejo do Cliente seja realizado.

Atualmente, vários fornecedores têm sido cobrados por atitudes pró-ativas. Uma atitude pró-ativa é a antecipação de uma solução por parte do Fornecedor a um pedido do Cliente. Algumas medidas de qualidade consideram Pró-ação como o passo para a Excelência.

Assim sendo será considerada pró-ativa a atitude do maitre perguntando "posso mandar servir o de sempre?" ou "hoje nós temos aquele leitão pururuca que o sr. tanto gosta. Posso mandar servi-lo?".

Porém, essa pergunta só poderá ser feita quando o maitre for antigo de casa e o Cliente for um habituè daquele restaurante. Parafraseando, o Cliente Interno é o habituè e o maitre é o DSI. Cabe ao DSI, por conhecer os "hábitos" dos Clientes Internos, propor-lhes soluções que venham ao encontro de suas necessidades e objetivos (explícitos e implícitos).

Neste quadro misturam-se várias áreas de interesse e também de conflito. Há que se concluir que não estamos navegando num lindo mar de rosas e que os ventos não são tépidos. Há farpas para todos. Os Clientes internos estão insatisfeitos com o DSI. O DSI está insatisfeito com os Clientes internos e com os Fornecedores terceiros. Estes estão insatisfeitos com o DSI e, por decorrência, com os Clientes Internos.

Estamos carentes de um programa de aquisição de conhecimento que possibilite que todas as pontas das duas relações C-F possam negociar e que saiam satisfeitas. Porém, se as soluções advindas desse processo não forem as melhores, que sejam avaliadas como o melhor que se pode fazer por agora.

No mundo da Prestação de Serviços sempre procuramos ACORDOS: quando Todos Concordam. Caso contrário, através de uma rota de colisão, inevitavelmente entraremos em conflito.

E conflitos existem desde quando Adão negociou com Deus uma costela para que este pudesse produzir-lhe Eva. Esta, quando criada, imediatamente começou a considerar: Esse Sol é muito forte, esse mar é muito salgado e essa cobra aí é uma fofoqueira ...